Labels

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Paulo Afonso e as Mulheres Cangaceiras Antônio Galdino c/texto de João de Souza Lima - joaoarquivo44@bol.com.br jornal Folha SertanejaAntonio Amaury, estudou o tema, em 1984 A presença da mulher no cangaço tem merecido alguns estudos e vários livros já foram escritos sobre o tema. Ainda em 1984, Antônio Amaury, autor de muitas obras sobre o cangaço, escreveu Lampião: as MULHERES e o cangaço, um livro de quase 400 páginas. Depois, em 2003, contou a história de Dadá no livro Gente de Lampião: Dadá e Corisco. Antes, em 1997, a Oficina Cultural Monica Buonfligio publicou a história de Ilda Ribeiro de Souza, a cangaceira Sila, no livro Angicos-EU SOBREVIVI- Confissões de uma guerreira do cangaço. Outros pesquisadores também procuraram trazer para os nossos dias informações sobre a vida de mulheres que participaram do cangaço. Wanessa Campos (VEJA: mulheresdocangaco.com.br) lançou em março o livro A DONA DE LAMPIÃO e há, sem dúvida, outros muitos escritores e escritoras que começam a dar Maria Bonita sob a ótica feminina, a Dona de Lampião mais atenção a esta presença feminina no cangaço e aprofundam seus estudos e pesquisas, à luz das ciências modernas, sobre a influência que elas tiveram nesse movimento que durou tantas décadas. Um destes escritores é João de Souza Lima, natural de São José do Egito, em Pernambuco mas, pauloafonsino de coração há muitos anos. Além de Lampião em Paulo Afonso, onde já fala do tema, ele escreveu a Trajetória Guerreira de Maria Bonita , a Rainha do Cangaço e Moreno e Durvinha, sangue, amor e fuga no cangaço, onde relata a vida destas duas mulheres. Sobre Maria Bonita, como resultado de um dos seminários sobre o seu centenário, saiu o livro MARIA BONITA, diferentes contextos que envolvem a vida da Rainha do Cangaço, organizado por João de Souza e Juracy Marques, com textos desses escritores e de Antônio Galdino, Edson Barreto e Rubervânio Rubinho Lima. Dadá, nasceu no Raso da Catarina ou em Belém do São Francisco? Uma das mulheres citadas por João de Souza Lima, nesse artigo, é Dadá, que ele afirma ter nascido no Raso da Catarina, na região de Paulo Afonso. Há escritores que dão como lugar de nascimento de Dadá o município de Belém do São Francisco, do outro lado do rio, em Pernambuco. Colocamos o texto de João de Souza Lima escrito especialmente para a edição de Março 2012, de Nº 87, do jornal Folha Sertaneja sobre as muitas mulheres cangaceiras da região de Paulo Afonso e abre-se a oportunidade de mais um debate sobre o tema cangaço. Para ilustrar esse texto recorri a imagem de Maria Bonita, capa do caderno especial da Folha Sertaneja lançado no Seminário do Centenário de Maria Bonita, em Paulo Afonso e capas de livros sobre o tema, que já ficam como sugestões de leitura. Deixem seus comentários logo abaixo do texto ou os enviem diretamente para o email folhasertaneja@yahoo.com.br ou para professor.gal@gmail.com (Antônio Galdino) Maria Bonita abriu o caminho para outras mulheres no cangaço Paulo Afonso e as Mulheres Cangaceiras A mulher sempre uma grande referência em toda sociedade e deixou registrada sua passagem também nas veredas do cangaço. Todas tiveram grande importância no contexto histórico. Paulo Afonso quando na época do cangaço era distrito de Santo Antônio da Glória do Curral dos Bois foi o palco principal da entrada da mulher para as fileiras do cangaço, que era, pela sua brutal forma de vida, um mundo exclusivamente machista. A mulher era figura descartada nesse meio. A entrada das mulheres nos bandos foi vista por uns como sendo a desgraça e a decadência do cangaço. Para outros, as mulheres vieram aplacar a fúria assassina e o desejo disforme que tanto feriram e humilharam as famílias nordestinas. Com a chegada e a permanência feminina, os cangaceiros adquiriram mais respeito para com as indefesas caboclas sertanejas. Sebastião Pereira da Silva, o famoso Sinhô Pereira, único cangaceiro a chefiar Lampião, fez a seguinte declaração:“Eu fiquei muito admirado quando soube que Lampião havia consentido que mulheres ingressassem no cangaço. Eu nunca permiti e nem permitiria. Afinal, o Padre Cícero tinha profetizado: Lampião será invencível enquanto não houver mulher no seu bando”. Maria Bonita Foi em Paulo Afonso que Lampião encontrou sua grande paixão, Maria Gomes de Oliveira, a eternizada Maria Bonita. Foi ela a primeira mulher cangaceira e com ela abriu-se o precedente das companhias femininas nos grupos, sendo Paulo Afonso, responsável por uma enorme leva de mulheres que também estivessem no cangaço. Maria Gomes de Oliveira nasceu no dia 17 de janeiro de 1910, data descoberta e documentada por Padre Celso Anunciação e Voldi Ribeiro, depois de uma longa pesquisa nos arquivos da Igreja Católica. Até então tínhamos a data de 08 de março de 1911, data apenas confirmada oralmente por duas irmãs de Maria Bonita, sem confirmação documental. Entre as mais famosas cangaceiras que saíram da região de Paulo Afonso, estão: Maria Bonita, do povoado Malhada da Caiçara, Lídia Pereira de Souza do povoado Salgadinho, Nenê (Nenê, de Luiz Pedro), do povoado Salgadinho Otília Maria de Jesus (Otília, de Mariano), do povoado Poços Inácia Maria das Dores (Inacinha, de Gato) do Brejo do Burgo (índia Pankararé) Catarina Maria da Conceição (Catarina, de Nevoeiro), do Brejo do Burgo (índia Pankararé) Durvalina Gomes de Sá, (Durvinha, de Virgínio e Moreno), nascida no povoado Arrasta-Pé. Dadá, de Corisco, nascida no centro do Raso da Catarina, local chamado Baixa do Ribeiro. A história de Sila (Ilda Ribeiro), a cangaceira que escapou da Grota do Angico Com as mulheres no cangaço vieram alguns contratempos, pois elas não tinham a valentia e a resistência dos homens e muitas vezes atrapalhavam quando ficavam doentes ou grávidas, tendo os cangaceiros que baterem em constantes retiradas, nos combates, para resguardarem a integridade física das companheiras. Segundo relatos das próprias cangaceiras sobreviventes, a pior coisa era ter filhos e não poder criá-los. O amor de mãe era substituído pela dor ao ver seus frutos carnais serem postos em outros braços. Os filhos eram doados, geralmente a algum conhecido que tivesse condições para dar um mínimo de conforto à criança. Relato forte que temos daqueles tempos é o de Inácio Carvalho de Oliveira, Inacinho. Filho do casal de cangaceiros Moreno e Durvinha, ele foi deixado com o cônego Frederico Araújo, religioso responsável pela igreja de Tacaratu, em Pernambuco. Inacinho procurou durante anos por seus verdadeiros pais, nunca perdendo a esperança e sendo recompensado pelo reaparecimento do casal e do reencontro depois de setenta longos anos. Durvinha viveu 70 anos incógnita. Morreu com 100 anos em Minas Gerais Outro caso célebre foi o de Sílvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, entregue ao Padre Bulhões, em Santana do Ipanema, Alagoas. Maria Bonita também sofreu seus dissabores. Quando do seu primeiro parto, passou pela dor de ver seu primogênito ser um natimorto e ter que enterrá-lo no fundo do quintal do coiteiro que lhe deu guarida, o velho Venceslau, Seu Lau, fiel guardião dos trajetos do Rei do Cangaço, nas proximidades do povoado Campos Novos, em Paulo Afonso. Sua filha, Expedita, nasceu no Estado de Sergipe e foi deixada para ser criada com o vaqueiro, Severo Mamede. Várias histórias povoam esse estranho mundo feminino. Mulheres viam nas passagens dos cangaceiros, em suas roupas coloridas e seus apetrechos brilhantes, uma forma diferenciada de vida e, no entanto, como uma armadilha, se envolveram em um mundo recheado de tiroteios, mortes, sangue, fugas alucinadas e escapadas perigosas. Esse foi o mundo do cangaço, uma página escrita no mais longínquo torrão nordestino, amenizado pelo toque e pela beleza da mulher sertaneja, uma mulher que deixou suas marcas permanentes no meio de um mundo extremamente machista, violento, perverso, enigmático, diferente. A mulher, na expressão primordial da palavra, amenizou as marcas das pegadas ferradas das sandálias de couro do cangaço e em seus rastros gravou sua passagem, nos confins do solo sagrado de uma nação chamada Nordeste

0 comentários:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.