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quinta-feira, 12 de julho de 2012

 Esse poema, "vou me embora pra pasárgada", apresenta em seus versos uma naturalide de tal forma que mesmo chegando a atingir expressões como "tem prostitutas bonitas", que em outras ocasiões seriam apelativas, aqui não chega a ser inconveniente, e sim, parece tão consequente e natural como toda a construção de seu texto de início ao fim com toda pretensão de conquistar a felicidade, porem, não consegue esconder uma certa ingenuidade e isso neutraliza qualquer censura.
Jmarcos

Mais uma vez Paulo Diniz será citado. Dessa vez, o cantor musicalizou um poema de Manuel Bandeira - Vou-me embora pra Pasárgada. 

     Em 1970, quatro anos depois de lançar sua primeira gravação, O chorão, Diniz lança dois LPs e em seguida começa a dedicar-se a musicalizar poemas de grandes autores como Carlos Drummond de Andrade, Gregório de Matos, Augusto dos Anjos, Jorge de Lima e Manuel Bandeira. O poema de Bandeira foi lançado como música em 2003 no CD "Meus momentos: Paulo Diniz".

Vou-me Embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90
    
     Vou-me embora pra Pasárgada tem sua importância não só pela construção em redondilha à moda do arcadismo, mas também no que  o poema tem de mais representativo da poesia popular.  Seus versos são simples e sem nenhum esforço artificioso de construção.  "Ir-se embora pra Pasárgada” significa ingressar na vida comum, abandonar-se, ser livre. O poema tem seu valor pela musicalidade que ele apresenta, tanto que Bandeira declarou que nunca a palavra cantou por si, e só com a música pode ela cantar verdadeiramente.  A sua capacidade de conviver com as palavras é exatamente esta: a de dizer tudo com um mínimo ou quase nada.
     Pasárgada é o paraíso do poeta.  Era a fuga, a saída para um outro mundo, ainda que inexistente. Lá ele tudo poderá.  Como ideia principal tem-se "a mulher que desejava amar". A segunda ideia é a da libertação do mal do corpo.  Em Pasárgada não poderá haver tristeza nem desalento, pois tudo lhe permitiria o seu rei e livre seria o seu corpo para os prazeres carnais.  Bandeira remete as imagens da infância e da adolescência pré-tísica que vivenciou. Pasárgada veio buscá-lo para eternamente viver a vida que ele nunca conseguiu viver.

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